terça-feira, 15 de agosto de 2017

Brisas

20h26. Na varanda. Apreciando o pôr-do-sol, pensando em ti. A Natureza move-se ao som de uma brisa fresca e da melodia singular de pássaros distintos. Os campos que me cercam estão repletos de diversas ervas com exímias tonalidades. O vento leve faz com que o meu cabelo balance numa esbelta harmonia com o resto da Natureza. Mais belo ainda é o sol a deitar-se lá no horizonte. Que deleitoso momento. Todavia, a beleza da vida não termina neste espetáculo gracioso, muito pelo contrário, começa quando a minha mente se torna transparente e somente tu te refletes. A Natureza torna-se exígua quando tu apareces.

São nestes breves momentos que eu denoto o valor da vida. São nestas modestas alturas que tu invades o meu pensamento de uma forma ainda mais bela do que o comum. E, são nessas horas, nesses minutos, como agora, que eu desejo que estejas aqui; que eu anseio conhecer-te, estudar-te, ler-te e reler-te, saborear cada página da tua alma, dançar ao som da tua sinfonia mais fascinante e, nas mesmas horas, eu ambiciono arrepiar-te o espírito e tornar-te imortal. Nessas frações de segundos a vida parece mais curta. Nessas horas o tempo parece reduzir-se a segundos e, para além de ambicionar possuir-te, suspiro parar todos os relógios do mundo e eternizar-nos.


sexta-feira, 2 de junho de 2017

Como é amar-te?

É tão bom sentir a tua vitalidade. É fascinante sentir o estremecer do teu corpo; sentir o teu coração palpitar ao mesmo tempo que te beijo. É apaixonante parar o tempo olhando-te nos olhos e, ficar eternidades de segundos, observando o ouro que contens. Amar-te é incrível. Forneces-me centenas de sensações diferentes a cada segundo. A monotonia já não entra em nenhum dicionário da nossa biblioteca. Namorar-te é como viajar. É gratificante, porque explorar-te enche-me de vontade de explorar-te mais e mais a cada dia. És a minha aventura predileta. Amar-te é como ir a um parque de diversões. Amar-te é sentir-me uma criança autêntica e rir-me perdidamente. Amar-te é perder-me e encontrar-me todos os dias em ti. Amar-te não é nada disto. Amar-te é muito melhor do que qualquer descrição que eu faça ou invente. Amar-te é uma sensação única que só eu saberei. rir-me perdidamente. Amar-te é perder-me e encontrar-me todos os dias em ti. Amar-te não é nada disto. Amar-te é muito melhor do que qualquer descrição que eu faça ou invente. Amar-te é uma sensação única que só eu saberei.

sábado, 13 de maio de 2017

Olhares

Olhaste-me e eu não consegui quebrar o que me transmitiste. Senti-te a tocares-me com os olhos e deixei que percorresses o meu corpo com o teu olhar. Não quis quebrar a conexão que estávamos a criar. Os teus olhos são tão poderosos. Senti os meus dedos levitar somente com a aproximação do teu olhar, talvez desejoso, sobre eles. Milagrosamente, quase senti os teus dedos aproximarem-se dos meus, mas ainda era só o teu olhar, tristemente. Aquele teu olhar quase mortífero, apaixonante e tão real. Arrisquei, ansiando ver a luz. A luz nos teus olhos antes da morte. Timidamente, ergui o meu rosto até atingir os teus olhos. Olhei-te. Ironicamente, o teu olhar, quase mortífero, encheu-me de vida. Vi a luz, mas não pereci. Os teus olhos são tão cheios de vida. O teu olhar quase mata a gente por quem passas; mata de amor. A mim, os teus olhos mataram-me de vida. Os meus olhos, retraídos de paixão, dependem de ti. Oh se dependem!... Os meus olhos abrem-se para poderem ver a luz nos teus e, não têm medo que os teus olhos os matem, porque de amores já eles estão mortos. Tudo em mim suplica que os teus olhos se pousem em algo meu. E quando os teus olhos descansam nos meus, o Mundo transforma-se de novo e de novo, até te cansares do descanso.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Abandono

Vi-te na esquina no outro dia.

Sem dó nem piedade, soltaste a trela. Quebraste todos aqueles momentos de lealdade que ele te ofereceu, sem pedir nenhum afago de volta. Ocultaste todas as horas perdidas que ele te esperou, por vezes, desesperado e esfomeado, enquanto tu andavas perdido nas ruas da cidade às horas mais obscuras. Deixavas-o afogar-se na sede que o consumia enquanto pedias mais uma cerveja no café do bairro. Rejeitavas as carícias que ele te ia fazendo com a mão a cada manhã. Levantavas-lhe o braço e ele baixava a cabeça. Olhavas-o com rancor e ele, apesar disso, continuava a oferecer-te afeto e ternura.

Vi-te na esquina no outro dia.

Olhei nos teus olhos e vi uma grande fraternidade a encher-te a alma. Levaste aquele animal tão pequeno e tão delicado até ao teu peito e abraçaste-o ternurento. Encantaste-te com a beleza do pobre animal e levaste-o contigo. Fizeste uma aliança com ele. Seriam leais e fiéis um com o outro. Iriam ajudar-se mutuamente em qualquer circunstância por muito que ele não passasse de um animal frágil. No entanto, ele possuía (e ainda possui) sentimentos. Acompanhaste-o no seu crescimento e enchias-o de carinho. E, ele começou a sentir um grande apreço por ti. Até ao outro dia.

Vi-te na esquina no outro dia.

Espreitavas para cada canto, medroso, que aparecesse alguém e te punisse. Passaram duas ou três pessoas e, fingiste que ele era um cão abandonado ao qual sentiste uma grande atração. No fundo, ele já se sentia abandonado. Pude reparar, nitidamente, na tristeza que lhe habitava nos olhos. Mesmo desiludido contigo, não deitou os dentes à tua carne, apesar de tu teres merecido (e ainda mereceres) isso. No entanto, ele ainda gostava de ti. Ele não ia quebrar a aliança apesar de tu estares a poucos instantes de o fazeres.

Vi-te na esquina no outro dia.

Na primeira vez, que ele adoeceu levaste-o logo ao veterinário. Não querias perdê-lo e, interessavas-te com o bem-estar do teu melhor amigo. Todos os dias contavas-lhe tudo aquilo que te tinha aborrecido e todas as partes divertidas que te fizeram soltar gargalhadas vivas. E, mesmo cansado, ele ouvia-te e saltava para o teu colo para te reconfortar. Devolvias-lhe um abraço e, ele dava-te uma lambidela como agradecimento.

Vi-te na esquina no outro dia.

Estavam só os dois. Na mesma esquina do primeiro encontro. Ele sentiu que era agora o último adeus. Arrancaste o cinto das tuas calças e, com uma força bruta, acertaste-lhe no lombo. Ele, magoado, ganiu. Voltaste a repetir, sem intervalos, durante cinco vezes. E, ele tornou a ganir no dobro. (Não sei ao certo o motivo de o teres feito. Agrediste o teu melhor amigo. Deixaste para trás aquele que era incapaz de te abandonar. Para além disso, feriste-o. Quiseste deixar-lhe marcas no corpo para que ele sentisse ódio daquele que um dia tinha cuidado dele. Foste-te embora sem olhar para trás. Observei aquele pobre cão a choramingar na esquina, mal conseguindo se mexer, a escorrer sangue. Ele não tinha forças para correr atrás de ti por muito que já sentisse a tua falta. Mas que raio de ser humano faz isso a outro ser? ''Os seres humanos são seres racionais.'' Mas que raio de ser, dito racional, faz isto a um animal tão humilde? Somos irracionais. Não pensamos no que fazemos. Agimos só por agir e deixamos de pensar. Não raciocinamos. Só sabemos esquecer aquilo que devíamos lembrar e manter presente no nosso dito cérebro. Somos gélidos mas iremos arder no Inferno.)

Vi-o na esquina no outro dia e, levei-o comigo.

Levei-o ao veterinário pela primeira vez e cuidei dele. Dei-lhe um novo lar e, dei-lhe a vida que ele ganhou esperanças de ter e que tu destruíste. Partilhei com ele todas as minhas aventuras e, ele aparecia em quase todas. Eu sei que o fazia rir apesar de não o conseguires notar. Não tens coração. És uma pedra dura que, um dia, se irá partir. E, espero que partas e que sofras tudo o que lhe fizeste engolir. Teve de engolir o seu próprio sangue para não morrer de sede. Enquanto tu, seu verdadeiro selvagem, foste comprar mais outra cerveja ao café do bairro para festejares a tua dita coragem.

Vi-o na esquina no outro dia e, levei-o comigo.

Eu sei que ele ainda te procura. Rasteja pelo chão, com o faro apurado, procurando o teu cheiro ou algo que te identifique. E quando o encontro nesse estado, pego nele e envolvo os meus braços pelo corpo dele e encosto-o a mim. Mas sei que ele ainda te quer. Fizeste-lhe a pior coisa que lhe podias ter feito, mas ele ainda te idolatra. Enquanto que tu ainda festejas a vitória de o teres abandonado. (Como consegues adormecer sem ter remorsos do que fizeste? Como tens a coragem de dizer que o teres abandonado é um ato corajoso? É o ato mais covarde! Abandonar e maltratar o próximo. Mas espero, vivamente, que um dia te veja ali na esquina, sozinho, a rastejar por esmola e a sugares-te a ti próprio, porque já não há cervejas e já não há brindes que te sustentem.)

Vi-o na esquina no outro dia e, espero ver-te ali a ti, qualquer dia.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Reflexos

Vejo-me nos teus olhos.

Os teus olhos são espelhos repletos. Repletos de lhaneza e inocência. Quebraste-me as formas. Contudo, deste-me forma. Entrelaçaste-me pelos teus olhos. Espedaçaste-me a singeleza. Estimulaste-me as impurezas mais profundas. Realçaste todos os meus acertos, apesar de apenas os meus equívocos serem sublinhados. No entanto, tu riscas todas as minhas inexatidões. E não falhas. Encobres-me, medroso, só que esqueces-te que ninguém me vê. Sou transparentemente obscura. Mesmo às claras, eu continuo sendo a sombra.

Sinto-me dentro de ti.

Olho em meu redor e, vejo as paredes do teu corpo. Belo sítio para habitar. És mais confortável que um colchão de penas. Encosto-me a ti e sinto o calor do teu delgado corpo. Aproximo a minha mão esquerda na tua parede desse mesmo lado. A minha mão estremece. Sinto-te (e sinto-me) a palpitar. Estou a palpitar contigo. Sinto o teu coração e sei que me pertence. Quer dizer, pertences-me de forma integral. Integras-me completamente e sou eu que vivo dentro de ti. Viver em ti é muito melhor do que viver em planetas. Dás-me mais condições vitais do que um próprio planeta pode fornecer. Tenho-te a ti. Já tenho tudo.
E, volto a olhar à minha volta. Vejo-te por dentro. Ainda estou indecisa qual é a melhor vista de ti. Ver-te por dentro ou ver-te por fora. Vejo-te por fora mas amo-te por dentro. Aliás, amo-te por dentro e por fora apenas num amor. Um único e eterno amor.

Sinto-me a entrar-te pelas narinas.

Tornaste-me em ar trivial. Sinto-me a oscilar por todo o lado. Não me sinto em ninguém. Ainda nenhum ser me tocou ou fez questão de me respirar. Até tu te avizinhares. Senti-te por todos os lados apesar de eu ser apenas algo gasoso. Não tenho linhas a contornar-me mas sinto que tocas nelas. Desfazes cada traço meu e eu sinto-me livre. Apercebo-me que me inspiras. Estou sem forma aparente. Entro dentro de ti e que bem me sabe estar aqui. E, pelos vistos, também te sabe bem teres-me dentro de ti. Saboreias a inspiração com gosto e eu consigo aperceber-me que sorriste enquanto me respiravas. Apercebo-me, agora, que sou a tua fonte vital. Dou por mim no meio de ti e sinto-me acanhada por todos os teus ossos. Expiras e eu mantenho-me em ti. Voltas a inspirar e eu sinto-me a entrar dentro de ti novamente. No entanto, já estava anexada em ti. Só me sinto a entrar e nunca me despeço de ti. Nunca encontrei a saída do teu corpo. Tapam-se os buracos e as fissuras. Sinto-me presa e, simultaneamente, livre. Vivo livremente presa em ti. Tornas-me livre e deixas-me voar no teu espaço.

Roubaste-me a inocência para que fôssemos indomáveis juntos.

Desta vez, sentia o meu corpo. Carne, ossos e peles soltas. Sentia-me mais um ser humano comum. Acordo, na cama vazia daquele quarto singelo do apartamento. Mais um dia sozinha. Levanto-me, deprimida, como todos os dias. Visto-me, apressadamente e, desço no elevador. Ao sair do prédio, enquanto procuro o meu telemóvel na mala, embato contra ti. E, com apenas o teu toque rude e tão cortês, arrancas-me a inocência que me resta. Fazes-me sentir como se corresse o mundo, sem destino, ao sabor dos ventos de norte. Talvez por coincidência, a meteorologia estava instável. Estava uma grande ventania mas um sol tórrido. Sentia os meus cabelos a voar por todo o lado. A minha aparência devia estar horrível, ainda por cima tinha acabado de acordar. Ternurento, moveste a tua mão direita ao meu rosto e desviaste os cabelos que me tapavam metade deste. Sorri envergonhada e pedi desculpa por ser tão desastrada. Mas menti. Eu não sou desastrada, apenas me distraí a procurar aquele aparelho estúpido que estava por debaixo de tudo o que tinha na mala. Devolveste-me um sorriso. Ofereceste-me o teu sorriso e eu devolvia-te todos os que me oferecias. Nunca fui de ficar com o que não era meu. Sempre achei patético. No entanto, quando senti metade do teu corpo contra o meu, só queria que ele me pertencesse por completo.

Tens-me apesar de eu não me deixar entregar a ninguém.

Creio que me olhaste com o mesmo desejo. Ambos nos queríamos e ambos já éramos um do outro. Sempre nos pertencemos mesmo antes dos nossos corpos chocarem. Observava os teus lábios enquanto falávamos. De vez em quando, subia o olhar e olhava-te nos olhos. No entanto, desviava-os, rapidamente, para que não lesses o amor que ali crescia por aquele desconhecido que eu já tinha explorado antes. Os meus olhos decifravam todas as palavras que eu não dizia. Talvez tenhas lido meia dúzia quando eu te olhava. Mas será que entendias? Tiravas-me a capacidade de pensar noutra coisa qualquer. Só conseguia pensar em ti. Esqueci-me completamente do que tinha de fazer naquela manhã quando me tocaste. Fiquei com amnésia e só te conhecia a ti. Só me lembrava do quanto me encantavas e da vontade que tinha de provar da tua doçura. Eras agreste mas eu sentia uma breve delicadeza dentro da figura de duro que aparentavas. Queria percorrer-te por dentro e por fora para encontrar a tua lenidade.

Cortaste-me as fitas e infringi as leis de te amar.

Amava-te desde o primeiro dia. Desculpa-me por ser tão desastrada. Caí de amores por ti. Tropecei de ternura em cada esquina tua. E, rasguei todos os beijos. Desculpa-me por ser tão desastrada. Mas, era impossível não rasgá-los com um sorriso. Olho-te nos olhos e, ainda consigo ver-me tal como me vês. Agrada-me a vista que tens de mim, confesso. Confesso-te os meus pecados, olhando-te, diretamente, nos olhos para que me acompanhes na leitura das minhas ofensas. E, no meio das minhas confissões, entendes-te como um delito. Se algum dia me vires a fugir da polícia já entendes. Cometi o meu primeiro crime quando colidi com o teu corpo. Maldita sexta-feira 13! Um dia, dito azarado, mas saiu-me a sorte grande. Graças a Deus (e ao telemóvel inútil) que me tornei a criminosa mais ditosa. Perdoa os meus crimes. Mas, é inevitável deixar de te amar ou conseguir amar-te em segredo.

Nunca acreditei no amor à primeira vista até te refletires nos meus olhos. 

sábado, 8 de agosto de 2015

Dependências fúteis

E aqui estou eu. Aliás, estamos nós. Descemos e subimos a rua. Cruzamo-nos com caras que nunca vimos antes. Olhamos para o lado e, logo de seguida, olhamos em frente. Estamos infiltrados no meio de uma multidão qualquer. Parecemos trancados naquelas ruas que as pessoas sugam e deixam-nas vazias. A rua está à pinha. No entanto, sinto-a tão vazia. As pessoas são tão vazias. Só cabe futilidade naqueles corpos anoréxicos de modéstia. Aprecio uma senhora qualquer a entrar numa loja. Seguro-te a mão e persigo-a. Assisto ao primeiro toque numa peça de roupa qualquer. Um casaco de pelo daqueles compridos. Deve custar uma fortuna. Penso sozinha. Todavia, capital é o que não deve faltar na bolsa daquela senhora. Olho novamente para ela e, esta já tem no seu antebraço uma data de roupa que tem em mente para levar para os provadores. Talvez seja o poder do consumismo. Porventura deve ser apenas uma necessidade. Não me estou a referir a uma necessidade de roupa nova porque a que temos está gasta ou já é um número demasiado reduzido ou vasto. Simplesmente, é a necessidade de cessar um vício. O vício do consumismo. Compra-se, exclusivamente, para mostrar superioridade. Mas porque raio é que uns simples trapos mostram superioridade? Cessas o vício, no teu ponto de vista. Já a meu ver, expandes essas dependências inúteis. Adquires mas já sentes vontade de comprar tudo de novo. Paro de pensar e, volto a olhar em volta da loja. A senhora loira, bem vestida, com uma silhueta aparentemente elegante, já se encontra na tesouraria. Disfarço e, deito o olhar numa peça de roupa banal. Aperto-te a mão e sentes-me nervosa. Fitas-me com os olhos e eu mato o momento tenso com um recuo. Não abro a boca para decifrar uma única palavra. Puxo-te, num ímpeto, e saímos de repente daquela loja frívola. Vejo a tal senhora a desfilar lá em baixo da rua com um saco descomunal, imundo de trapos novos para o guarda-fatos que se encontra tão rico, contudo, tão carente. Está preenchido de trajes de diversas cores, porém sente-se despido. Talvez a senhora loira também se sinta despida. Porventura, seja esse o pretexto para obter roupa em demasia. Sente-se demasiado vazia e nua. Mas, não se sente assim fisicamente. No entanto, esconde os ressentimentos com tecidos caríssimos. Só que nem faz ideia que o dinheiro não paga nem apaga tudo.

sábado, 1 de agosto de 2015

Danças

Passaste como brisa e caíste como as folhas caem das árvores. Dançavas no ar. Voavas tão alto e sentavas-te nas nuvens. Quis subir para te alcançar mas bailavas ainda mais alto. Quis, por momentos eternos, ser as nuvens na qual tu te sentavas e deixavas o teu toque. Quis amar-te de perto só que tu afastavas-te ainda mais, sempre que eu tentava atingir-te.

Ensina-me a tua dança. Explica-me cada passo e cada movimento que fazes com o corpo. Movimenta-te comigo. Vamos dançar ao mesmo ritmo. Ritmicamente ao ritmo da nossa palpitação cardíaca. Abre o teu coração e deixa que eu o preencha com a melhor música de toda a era musical. Encosta o teu coração ao meu e deixa que eles cantem as melodias mais encantadoras de sempre. Mas deixa. Deixa que eu te ame. Desce e oscila pelo meu corpo. Balança-te nos meus defeitos, eu não te deixo cair neles. Eu detenho-te de todos os meus e os teus problemas. Reprimo-te da universalidade da malícia. Irei zelar-te, eu assevero. Mas ensina-me a dançar. Orienta-me em cada andança e, não deixes que eu me despenha a observar a tua esbelta silhueta nas sombras da cidade.

És como as sombras. Vejo-te em cada canto. E, sempre que te vejo, tu danças. Ainda não tenho a certeza se é o teu método de encantamento ou apenas se é o que sabes fazer. No entanto, encanto-me sempre por ti como se fosse a primeira vez que te vejo. Reviras o meu mundo quando danças. Vejo-te a cabeça nos pés. Cada passada tua é tão acertada e bem pensada, por isso, creio que pensas em cada passo antes de o dares. Ou talvez te limites a andar. E que bem que o fazes. Todavia, o que é que tu não fazes devidamente?

Limitei-me a nem responder à questão porque não há resposta. É inútil responder a uma pergunta sem resposta possível. Responder-te um ''nada'' era tão vazio. Então deixo-te em branco, apesar de me tornares arco-íris. É egoísmo não partilhar nenhuma cor contigo. No entanto, egoísmo é querer-te só para mim. Prevejo-te minha propriedade apesar de não te deixares prender a ninguém. És meu e eu deixo-te voar livremente. Mas voa desafogadamente em mim. Percorre-me pelo os ossos e eterniza o meu esqueleto.

Corres-me nas veias. És álgido mas tórrido. Incendeias-me o coração e sinto-me a arder mas não pereço. Tornas-me imortal. Inalo-te como se fosses oxigénio e, sabes-me bem. Fazes-me viver. És seiva. És sangue. És vida.

Vives aos saltos. E, fazes-me estremecer quando palpitas. Habitas na melhor parte de mim. Sei que é muito pindérico, mas vives no meu órgão cardiovascular. Abraças-me ternamente e palpitas mais forte. Pareces nervoso e deixas-me frenética. Quero ajustar-me às tuas linhas. Quero endireitar-me pelas tuas curvas e torcer-me pelas tuas retas. Quero explorar as tuas fisionomias e analisar-te a partir dos teus traços. És marcado a tracejado para que eu complete as linhas.

E se te completo, ficamos completamente completos, visto que me integras na mesma intensidade.